Como abordar a aprendizagem da língua escrita na Educação Infantil?

O papel central que as práticas de leitura e escrita ganharam em nossa sociedade influencia o olhar das crianças sobre a realidade que as cerca, mesmo antes de ingressarem na vida escolar.

Por Mônica Cardoso

Texto publicado originariamente em Plataforma do Letramento no mês de junho de 2016

A Educação Infantil é o início da vida escolar, mas o contato da criança com o mundo letrado começa bem antes da entrada na escola. Ao ver a mãe escrever a lista de compras, a criança constrói a ideia de que uma das ações sociais da linguagem escrita é garantir a memória. Quando observa o pai digitar uma mensagem no celular, ela percebe que a escrita é importante para a comunicação. Se a avó segue a receita para fazer um bolo, ela associa o uso da escrita à transmissão de ensinamentos. Em uma sociedade em que a escrita é tão valorizada, o contato das crianças com a cultura letrada acontece cada vez mais cedo e, muitas vezes, a alfabetização é apresentada como um objetivo de aprendizagem já na Educação Infantil.

 “A criança, desde muito cedo, depara-se com a escrita a sua volta, vendo a mãe escrevendo um bilhete, o pai conferindo a conta de luz, a avó lendo um livro para ela... Assim, começa a perceber o significado desses diferentes portadores, o que a introduz nos usos sociais da escrita – no letramento. Ela revela, também desde cedo, interesse pelo significado daqueles pequenos traços, as letras, e curiosidade sobre como eles representam palavras, histórias – começa a compreender a alfabetização”, afirma Magda Soares, professora titular emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

“Tomar parte em situações de uso da escrita é ser introduzido no letramento. Quando elas chegam às escolas, já experienciaram inúmeras situações em que a palavra escrita está presente e é necessária para interagir socialmente, antes mesmo de qualquer adulto dizer se devem ou não ser alfabetizadas nesse momento de escolarização. Como sujeitos e produtores de cultura, elas anseiam conhecer e tentam desvendar o que a escrita representa e como ela representa”, avalia Claudia Lemos Vóvio, professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A questão que se apresenta então é o que a Educação Infantil pode fazer tanto com os desejos e interesses das crianças como com a bagagem de saberes que elas já construíram participando de práticas de letramento anteriores à escolarização.

“É preciso esclarecer o que chamamos de alfabetização. Se considerar que alfabetização é ensinar as relações entre sons e letras, e que para isso é preciso treinar a criança para reconhecer esses sons e estabelecer uma relação com sua forma gráfica, eu diria que há muitos contras em relação à alfabetização na Educação Infantil. No entanto, se considerar que alfabetização é um processo que começa muito antes de a criança ter acesso a práticas educativas na escola, independentemente da autorização dos adultos e da mediação de professores para ensiná-la a ler e a escrever, eu diria que há muitos prós. Diria mais ainda: que seria uma obrigação da Educação Infantil oferecer às crianças situações nas quais elas possam ver respondidas suas perguntas sobre o funcionamento da linguagem escrita, ampliar suas experiências em relação a essa linguagem e ser estimuladas a querer saber mais sobre ela”, pondera Mônica Correia Baptista, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Alfabetização Leitura e Escrita (Ceale/UFMG).

Diante do fato de vivermos em uma cultura letrada, qual deve o ser papel desempenhado pela Educação Infantil? Para Magda Soares, a alfabetização é um processo que deve se iniciar já nessa etapa escolar, explorando a curiosidade que as crianças têm em relação à língua escrita: “Em geral, na Educação Infantil se tem feito uma separação entre letramento e alfabetização: entende-se que a criança deve se desenvolver no letramento, mas não iniciar a aprendizagem de conceitos sobre a língua escrita − o que são as letras, o que elas significam, por que representam sons e como os adultos transformam aqueles 'risquinhos' em palavras. Não é preciso esperar os 6 ou 7 anos e assim interromper a introdução à alfabetização da criança. Considero mesmo injusto impedir que ela continue um processo que já começou.”

No entanto, há que se atentar para as peculiaridades dessa fase do desenvolvimento infantil, alerta Silvia Colello, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). “A polarização pode gerar duas posturas extremas. De um lado, colocar crianças sentadas nas carteiras fazendo exercícios de coordenação motora, copiando e recitando maquinalmente o babebibobu, que não tem nenhum significado para elas. De outro, achar que a criança não deve ter contato com práticas de leitura e escrita de jeito nenhum, o que revela a falta da consciência do letramento. O papel da escola não pode ser o de brecar o conhecimento, mas incentivar a ampliação de experiências com base na realidade da criança, acompanhando esse processo e promovendo experiências significativas sobre a linguagem”, analisa a especialista.

Aprender brincando

Em várias instituições e entre alguns educadores, o brincar ainda é colocado em segundo plano e visto como algo de menor importância, como se nada acrescentasse ao aprendizado. Entretanto, é por meio das brincadeiras que a criança descobre a si própria, os outros e o mundo ao seu redor, além de desenvolver a criatividade, a expressividade e as múltiplas linguagens além da escrita: os gestos, as expressões faciais, a manipulação de objetos e materiais, o desenho, a dança, a música etc. Dessa forma, especialmente na Educação Infantil, as práticas pedagógicas devem possibilitar a organização de espaços, tempos e situações para o brincar, assim como a disponibilização de artefatos, acervos e objetos, criando maneiras lúdicas que proporcionem a vivência plena da infância e estimulem a aprendizagem.

“Embora o movimento do brincar tenha adquirido dimensões importantíssimas nos últimos 30 anos, por meio de estudos e pesquisas, inclusive das neurociências, que comprovaram a sua fundamental importância para o desenvolvimento saudável da criança e para o estímulo a diversas aprendizagens, este brincar ainda é visto como ‘acessório’. O brincar desvela a criança no seu temperamento, na sua essência, nas suas preferências, interesses, necessidades e dificuldades. Brincando, pintando, experimentando, movimentando-se, cantando ou tocando instrumentos, imitando, balbuciando, criando diversas narrativas, a criança se expressa, se mostra, confronta desafios e descobre o mundo e a si própria. Esses canais e essas linguagens expressivas são importantes e potencializam possibilidades de desenvolvimento integral da criança, como corpo, cognição, emoções, socialização, valores e aquisição da linguagem falada, escrita e artística”, afirma Adriana Friedmann, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento (Nepsid) e professora na área de Antropologia da Infância e Pesquisas com Crianças do Instituto Singularidades, em São Paulo (SP).

O brincar e a participação em situações nas quais a escrita é central para a interação e para o alcance de um propósito partilhado são atividades fundamentais tanto na Educação Infantil como no ciclo de alfabetização. “Esse processo que é, e deve continuar a ser, na Educação Infantil, fundamentalmente lúdico para a criança. Ela participa com interesse de jogos e brincadeiras que envolvem a língua escrita e que, para o professor, têm finalidade pedagógica. Lúdico não é apenas correr, brincar de casinha, jogar bola, ouvir histórias: lúdico é tudo aquilo que dá prazer à criança. Quando o professor a instiga com perguntas provocadoras que a ajudam a refletir sobre hipóteses que ela faz a respeito dos usos da escrita e da representação da fala pela escrita, a criança fica tão interessada e curiosa para procurar respostas, que isso é lúdico: lúdica é toda atividade que responde a interesses e satisfaz curiosidades”, afirma Magda Soares.

“Por meio de jogos de faz de conta, brincadeiras e jogos estruturados envolvendo práticas letradas, as crianças se posicionam e desempenham papéis sociais, apropriando-se criativamente deles e enriquecendo modelos e referências advindas de sujeitos mais experientes. Ter a palavra escrita como brinquedo, brincar de ler e escrever e de desempenhar papéis e comportamentos de usuários da escrita geram repercussões na infância. São situações nas quais podem brincar de ler e de escrever: oralizam e compreendem os textos, acionam conhecimentos de mundo para relacioná-los aos temas da leitura e de outros textos e discursos, lidam com suportes e tecnologias da escrita (livros, revistas, telas, papéis, canetas, teclados), criam réplicas, dialogam com os discursos com os quais se deparam, buscam interagir por meio da escrita. Nesses eventos de brincadeira e letramento, experimentam não só papéis, mas percebem e constroem para si as funções sociais da escrita”, exemplifica Claudia Vóvio.

Letramento lúdico e formação da identidade

Observando seus alunos e conhecendo a bagagem multicultural deles, o professor pode estimular o aprendizado de maneira lúdica, criando propostas adequadas a cada faixa etária. “O modo mais significativo pelo qual a criança aprende é pela brincadeira. Contudo, na nossa cultura escolar ela é vista como algo antagônico ao saber, tanto é que o professor diz ‘chega de brincadeira e vamos aprender’. É possível propor brincadeiras divertidas, como jogos de rimas, trabalhar com rodas de histórias, desenhar uma história ou música conhecida, fazer uma peça de teatro...”, afirma Silvia Colello.

Segundo a professora da USP, o letramento deve estar conectado com a realidade das crianças de forma provocativa, promovendo experiências lúdicas de leitura e escrita significativas. Por exemplo, o educador pode fazer uma lista de histórias a serem lidas, buscando ofertar temas e origens variadas, e atentando para que a leitura ganhe função social. Outra ideia interessante é propor a escrita coletiva de um convite para uma comemoração da escola, como a festa do Dia das Mães.

“Para a criança é muito importante escrever seu próprio nome porque é uma questão de identidade. O professor pode fazer uma lista de presença na sala de aula com uma foto ao lado de cada nome, onde as crianças marcam um X diariamente. Com o tempo, ele retira o apoio da foto. Ao mesmo tempo que identificam seu próprio nome, as crianças começam a discriminar os nomes dos colegas. Isso pode gerar uma discussão do tipo ‘por que os nomes da maioria das meninas terminam com a letra a enquanto os nomes da maior parte dos meninos acabam com o?’”, acrescenta Silvia.

É importante que a criança construa a função social da escrita e da leitura, percebendo sua presença e importância em situações reais. “O professor pode preparar o espaço para trazer os jogos e as brincadeiras de forma simbólica. Um canto da sala de aula pode ser a cozinha. A cozinha precisa ter o livro de receitas e os bilhetes na geladeira. O professor observa a brincadeira e propõe desafios, como fazer a lista de compras. Com isso, é necessário criar o espaço do supermercado com as prateleiras de produtos com etiquetas. Nesse caso, é um contato natural com a função da linguagem dentro do enredo da brincadeira”, explica Sônia Madi, coordenadora do projeto Alfaletrar, em desenvolvimento pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e parceiros.

“Se na sala de aula há alunos que vêm de diferentes lugares, o professor pode chamar a atenção para os diversos sotaques. Com isso, ele apura a escuta das crianças e desenvolve a consciência fonológica. Já ao brincar de boliche, a proposta é lidar com o conhecimento matemático: o número de pinos e a lista com os nomes das crianças e os pontos de cada uma nas rodadas do jogo”, afirma a educadora.

Situações que explicitam a função social da escrita fazem parte da proposta pedagógica da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Guia Lopes, em São Paulo (SP). “O encantamento, a fantasia e a imaginação estão presentes nas nossas propostas e provocações didáticas. Não definimos uma lista de conteúdos a ser trabalhados, mas atitudes que façam parte da vida de nossas crianças, como o interesse em aprender a escrever. Criamos figuras de afeto com as quais só é possível ter contato por meio de cartas e que só ganham vida durante a noite, quando não há mais ninguém na escola. Os vínculos estabelecidos com esses bonecos fazem brotar cartas diárias, ditadas pelas crianças tendo o professor como escriba, tal a necessidade e a urgência de estabelecer essa conexão. Em uma cultura letrada, a escola não pode omitir-se da constatação de que a cidadania só pode ser vivida com o domínio de alguns conhecimentos, como a escrita e a leitura”, argumenta a diretora Cibele Racy.

A escola também cria situações em que o registro escrito é usado para guardar na memória os bons momentos durante as aulas. O objetivo é que, com o auxílio dos professores, as crianças escrevam sobre algo que lhes foi significativo. Com isso, elas se sentem à vontade para escrever, vencendo o medo de errar e superando a justificativa de não saber fazer, que imobiliza a criatividade e o prazer de se expressar e se comunicar.

O aprendizado ocorre por meio das brincadeiras e interações nos diferentes espaços como o parque, a sala de leitura, a brinquedoteca, a horta, a cozinha experimental e o espaço de arte. “Hoje é impossível pensar na educação como áreas fragmentadas do conhecimento e desenvolvimento humano. É dessa forma que compreendemos o brincar. A brincadeira não deve ser considerada uma linguagem apartada das provocações que planejamos para as crianças em todos os momentos da nossa convivência. É por meio das concepções que temos sobre o brincar que construímos nossas propostas de trabalho com a alfabetização. Pensar a educação fora de quatro paredes, entre o que pode e o que não pode, é um dos nossos desafios”, complementa a diretora.

Aprendizagem da língua e Educação Infantil na BNCC

Percebe-se a preocupação de escolas, professores e famílias em iniciar a alfabetização desde a Educação Infantil. Essa preocupação reflete as atuais demandas socioeconômicas, que levam à apreensão (cada vez mais precoce) em relação ao sucesso escolar e profissional. Nesse contexto, cabe esclarecer as famílias sobre o desenvolvimento infantil, mostrando como acontecem os processos de aquisição da língua falada e escrita.

“Esquecemos que os pais tomam como referência escolas e professores de quando eram alunos e que tais referências estão muito distantes do que hoje conhecemos acerca da educação escolar e do que esperamos dela. É preciso que educadores e gestores saibam apresentar o papel da escola e os objetivos dos projetos pedagógicos aos pais. Estabelecer esse tipo de comunicação, compartilhar metas, explicar o que se passa na escola, como as crianças estão se desenvolvendo, indicar como atuar em casa com as crianças e, principalmente, implicá-los no processo de aprendizagem dos filhos é estratégia importante da escola”, comenta Claudia Vóvio.

Segundo especialistas, a alfabetização precoce pode trazer resultados prejudiciais, como o encurtamento da infância, que deixa de ser vivida de forma plena, queimando etapas importantes para o desenvolvimento humano. “Essa ideia de que a criança precisa estar mais adiantada para se preparar para o vestibular é espelho de uma sociedade competitiva, pautada pela crença de que é preciso ser o melhor do grupo. Por se sentir pressionada, cobrada, a criança e o jovem podem desenvolver uma relação negativa com o conhecimento. O processo de aprendizagem se faz por elaboração mental. Cada criança tem um ritmo e vive em um contexto familiar próprio. Respeitar o tempo da criança é garantir o encantamento de ler e escrever, obtendo resultados melhores”, avalia Silvia Colello.

“Acompanhei uma classe do 1º ano do Ensino Fundamental e percebi que uma aluna, de 6 anos, escrevia muito bem, com noção de pontuação e diferenciando letras maiúsculas e minúsculas. Quando eu pedia a ela que escrevesse, ela escrevia uma única frase: ‘O cachorro morde’. E ela escrevia ‘cachorro’ de forma correta, com ch e rr. Eu perguntei por que ela escrevia sempre a mesma frase. Ela me disse que a professora da Educação Infantil havia ensinado essa frase e, quando ela pegava o lápis, sentia tanta raiva que só conseguia pensar em cachorros que mordem. Outra aluna, que sentava ao lado dela, não escrevia nada e só desenhava minhoquinhas. Em seis meses, esta aluna que desenhava superou aquela que só escrevia a mesma frase”, conta a professora.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) acena com uma mudança neste panorama, orientando a produção de propostas curriculares da Educação Básica, incluindo a Educação Infantil, tanto de escolas públicas como privadas. O portal da BNCC foi lançado no ano passado, com acesso para consulta pública, e o documento final será apresentado em junho deste ano. 

A BNCC segue as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI), que defendem as especificidades etárias na proposta pedagógica, sem antecipar os conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fundamental. O artigo 4º das DCNEI define a criança como sujeito histórico e de direitos, que conhece a si mesmo, o outro e o mundo, interagindo e produzindo cultura de diferentes modos e por meio de diferentes linguagens: brincando, imaginando, experimentando, ouvindo, criando e narrando histórias, observando e questionando. Dessa forma, constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.

Um dos pontos importantes da Base em relação à Educação Infantil é a apresentação de direitos de aprendizagem e desenvolvimento em relação a três faixas etárias: bebês (0 a 18 meses); crianças bem pequenas (19 meses a 3 anos e 11 meses); crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). Levando em conta as características dos bebês e das crianças e as orientações das DCNEI, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento referem-se a cinco principais ações: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Com base nesses direitos, são definidos como eixos dos currículos cinco campos de experiências: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e imagens; Escuta, fala, linguagem e pensamento; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

Na Educação Infantil, esses campos de experiências − que, no Ensino Fundamental e Médio, se traduzem em áreas de conhecimento – têm a brincadeira e as interações como eixos para o currículo que orientará as práticas pedagógicas. Além disso, a Base estabelece, em sua última versão, que deve haver uma continuidade entre o programa educativo desenvolvido na EI e a vida escolar subsequente, pois ambos pertencem ao mesmo processo de formação humana.

“A abordagem de um currículo pautado na experiência da criança não anula os conhecimentos historicamente acumulados, materializados nos programas e nos conteúdos previstos pelas escolas, pois a experiência dos meninos e das meninas incorpora fatos e conhecimentos, além de atitudes, motivos e interesses que levam à aprendizagem. São as brincadeiras, as ações, as interações e a participação nas práticas sociais que levam as crianças a ter curiosidades sobre temas, práticas, ideias a serem pesquisadas e a constituir seus saberes sobre o mundo.” (BNCC, 2016, p. 59.)

Para assegurar esses direitos no cotidiano das instituições de Educação Infantil, é necessário propor arranjos curriculares que superem a fragmentação do conhecimento e busquem acolher “as práticas sociais e culturais das crianças e das comunidades, as diferentes linguagens simbólicas que nelas estão presentes, além dos conhecimentos sistematizados pela cultura e pela ciência”. (BNCC, 2016, p. 61.)

Por si só, a BNCC não será capaz de mudar as práticas de escolas que priorizam a alfabetização na Educação Infantil. É necessário formação permanente dos professores, conscientização e profundo conhecimento dos processos de desenvolvimento das crianças, de suas linguagens e realidades, para que de fato as práticas possam ser alteradas.

“Essa mudança, extremamente importante, só ocorrerá se houver uma política de formação que atinja todos os sistemas educacionais e que inclua a formação inicial nos cursos de Pedagogia e que contemple ações de formação continuada. A BNCC é importante para a construção de acordos entre os mais diferentes setores da sociedade que querem e necessitam estar envolvidos nas discussões sobre que educação o Brasil quer assegurar a sua infância, a sua juventude e aos brasileiros de forma geral. É a resposta a essa pergunta que servirá de ‘base’ para que cada sistema educacional, cada rede de ensino, cada escola, cada professor elabore seu currículo”, considera Mônica Correia Baptista, do Ceale.